Odontologia - 14.04.2025
ASBs e TSBs: pilares da Odontologia que garantem eficiência e acolhimento no atendimento
Profissões auxiliares ganham cada vez mais espaço, reconhecimento e regulamentação, reforçando seu papel estratégico no trabalho em equipe e na promoção da saúde bucal

A construção de uma Odontologia eficiente, humanizada e acessível passa, inevitavelmente, pela atuação dos Auxiliares (ASBs) e Técnicos em Saúde Bucal (TSBs). Ao longo das décadas, esses profissionais deixaram de ser coadjuvantes e assumiram um papel estratégico no cuidado com os pacientes — tanto na rede pública quanto nos consultórios particulares.
“Historicamente, a introdução das profissões auxiliares em Odontologia no Brasil remonta aos anos de 1950, com a experiência da Fundação SESP, que treinava auxiliares para os trabalhos preventivos”, explica o Cirurgião-Dentista, professor de cursos de formação e capacitação de ASBs e TSBs, Dr. Edélcio Anselmo. “A primeira regulamentação concreta sobre a formação do técnico em higiene dental aconteceu em 1975, por meio do Parecer nº 460/75 do Conselho Federal de Educação. Depois, em 1984, o Conselho Federal de Odontologia (CFO) regulamentou o exercício dessas profissões. Mas a grande transformação veio com a Lei 11.889, de 2008, que passou a exigir cursos de capacitação e inscrição no CRO para o exercício legal da profissão.”
Vale lembrar que, a aprovação da Lei 11.889/2008, que regulamentou as profissões de ASB e TSB, foi resultado de uma longa mobilização das entidades odontológicas brasileiras — entre elas, a APCD e a ABCD, que atuaram ativamente na articulação política e na mobilização da classe em todo o país. O projeto foi amplamente debatido no Congresso Nacional, com forte engajamento do CFO, dos Conselhos Regionais, de sindicatos e associações estaduais e regionais. Esse movimento coletivo foi fundamental para o reconhecimento legal da categoria e para estabelecer parâmetros mínimos de formação, atribuições e ética profissional.
Com a regulamentação, ASB e TSB tornaram-se profissões legalmente reconhecidas por lei. Por isso, para exercer qualquer uma dessas funções, é obrigatória a inscrição ativa no respectivo CRO. Não basta possuir apenas a formação técnica: o exercício profissional sem registro é ilegal, considerado um crime. E o Cirurgião-Dentista que emprega alguém sem registro também incorre em infração ética, podendo ser responsabilizado por acobertamento de exercício ilegal da profissão.
Crescimento, desafios e consolidação
Atualmente, o Brasil conta com 78.945 ASBs e 45.312 TSBs ativos, segundo dados de abril de 2025 divulgados pelo CFO. Esses números expressivos refletem o fortalecimento da categoria e seu papel indispensável no sistema de saúde bucal do país.
Essa evolução histórica também trouxe a ruptura de um estigma. “O ASB e o TSB deixaram de ser nomeados, popularmente, como a ‘mocinha do dentista’”, completa o Dr. Edélcio.
Na prática, esses profissionais desempenham funções fundamentais. “O papel do ASB e do TSB é garantir o funcionamento eficiente do consultório e a qualidade do atendimento aos pacientes”, destaca a TSB, Elizabeth Gomes da Silva, presidente da Câmara Técnica de ASBs e TSBs do CROSP. “Eles preparam materiais, auxiliam o Cirurgião-Dentista a quatro e a seis mãos, fazem a gestão dos insumos, acolhem os pacientes e podem realizar procedimentos menos complexos, como aplicação de flúor e escaneamento intraoral, sempre sob supervisão.”
Essa atuação não se limita ao ambiente clínico tradicional. “Eles também estão presentes em ações de saúde pública, em ambientes hospitalares e em programas de prevenção, orientando os pacientes e contribuindo para o bem-estar coletivo”, afirma Elizabeth.
Apesar dos avanços, os desafios ainda são muitos. “Falta a uma parcela dos Cirurgiões-Dentistas o reconhecimento pleno do ASB e TSB como recursos humanos imprescindíveis para a prática de uma Odontologia de excelência”, observa Dr. Edélcio. Ele reforça que, além da valorização simbólica, é preciso pensar em aspectos concretos: “A remuneração por um piso salarial efetivo, o incentivo à educação continuada e o aproveitamento integral das competências desses profissionais são pontos-chave.”
Nesse contexto, políticas públicas têm feito a diferença. “Sem dúvida, o Programa Brasil Sorridente, lançado em 2004, foi um marco para a valorização das categorias auxiliares”, afirma. “A inclusão de ASBs e TSBs nas Equipes de Saúde Bucal do SUS ampliou o mercado de trabalho. Em 2023, com a consolidação da Política Nacional de Saúde Bucal como política de Estado, pela Lei 14.572, houve um passo importante para garantir a continuidade da atenção à saúde bucal no serviço público.”
Do ponto de vista da valorização no dia a dia, Elizabeth reconhece avanços, mas ressalta que o cenário ainda é desigual. “A valorização das profissões de TSB e ASB pode variar conforme a cultura da equipe e o ambiente de trabalho. Em muitos lugares, somos vistos como essenciais, mas ainda há desafios”, pondera. “Quando existe boa comunicação, reconhecimento formal das funções e investimento em educação continuada, o resultado é um atendimento de qualidade para o paciente e um ambiente mais justo para a equipe.”
A atuação das entidades de classe também tem sido indispensável. “A APCD, que inicialmente voltava sua atenção exclusivamente ao Cirurgião-Dentista, passou a investir em ações que dão visibilidade aos auxiliares”, afirma o Dr. Edélcio, inclusive destacando o Encontro Nacional da categoria que ocorre anualmente durante o CIOSP, um dos maiores eventos da área promovido pela APCD. “E o CROSP, por meio da Câmara Técnica de TSB e ASB, também tem investido na valorização com projetos formulados por seus membros.”
A atuação das entidades de classe também tem sido indispensável. Além de atuar pela regulamentação, “a APCD passou a investir em ações que dão visibilidade aos auxiliares”, destaca o Dr. Edélcio. “Um exemplo claro é o Encontro Nacional de ASBs e TSBs, realizado anualmente durante o CIOSP, que tem contribuído fortemente para a valorização profissional e atualização técnica das categorias.” Ele também destaca a importância do trabalho do CROSP, por meio da Câmara Técnica de TSB e ASB, que tem investido em projetos voltados ao fortalecimento da atuação desses profissionais.
Além disso, várias regionais da APCD promovem cursos de capacitação e formação para ASBs e TSBs, contribuindo para que mais profissionais ingressem no mercado de trabalho de forma legal, regulamentada e qualificada, conforme exige a legislação.
Para quem pensa em seguir essa carreira, Elizabeth deixa uma mensagem inspiradora: “Ao escolher ser TSB ou ASB, você se torna parte fundamental da equipe que transforma sorrisos e autoestima das pessoas. Esteja preparado para aprender sempre, pois a Odontologia está em constante evolução. Se você tem paixão por cuidar do outro, essa profissão pode trazer muita realização.”
Por Swellyn França